quinta-feira, maio 14, 2009

Jornalismo: o acesso democrático à profissão (II)

As rádios locais portuguesas começaram a emitir há 20 anos, em 1989, na sequência de um processo legislativo concluído no final de 1988. A liberalização do sector da rádio em Portugal modificou por completo a paisagem radiofónica portuguesa. O Rádio e Jornalismo está a publicar um conjunto de posts sobre a radiodifusão local, com especial enfoque na realidade portuguesa.


Uma das particularidades do fenómeno das rádios locais em Portugal reside no facto destas pequenas emissoras terem dado a possibilidade de fazer rádio a pessoas das mais variadas origens profissionais.

Em 1987 o Jornal Expresso publicava uma reportagem sobre as rádios locais portuguesas. Numa das passagens do texto, esta origem diversificada de quem fazia rádio nas emissoras locais fica bem clara.

Lê-se no Expresso: “Do padeiro ao barman, do polícia ao magistrado, do militar ao funcionário municipal, do teólogo ao filósofo, passando pelo químico, pelo fotógrafo, pelo cabeleireiro. E por aqui nos ficamos.”

Não se tratou, efectivamente, de uma originalidade portuguesa. Noutras latitudes, por exemplo em Espanha, as rádios livres tiveram também o contributo de pessoas oriundas de várias profissões. Pela Europa fora as rádios livres foram aproveitadas para que grupos sociais e políticos, considerados minoritários, se expressassem através de um meio de comunicação.

Para além da origem profissional, um dos aspectos mais importantes e que, a meu ver, caracterizou a génese das rádios locais em Portugal foi a juventude de quem nelas participava.

Com a rádio centralizada em Lisboa, as emissoras locais representaram um palco importante para que muitos jovens dessem aí os primeiros passos no jornalismo radiofónico.

Para muitos, as emissoras locais representaram uma escola prática de jornalismo e indiciaram a descentralização das possibilidades de emprego na área da comunicação social.

Segundo o jornal Expresso, a média de idades dos “trabalhadores” das rádios piratas no final da década de 80 era de 17 anos, e poucos ultrapassavam os 20 anos de idade.
Ainda segundo o mesmo periódico, as idades daqueles que estiveram na origem da iniciativa oscilavam entre os 9 e os 86 anos, mas os que a passaram à prática – leia-se, faziam programas – tinham entre 21 e 65 anos.

Se olharmos hoje para as principais redacções da rádio portuguesa encontramos um conjunto assinalável de profissionais que iniciaram a sua actividade em pequenas emissoras espalhadas pelo país.
E isso deve-se às rádios locais.

Sem comentários: