segunda-feira, março 24, 2014

Leituras: Benjamin e a rádio


No início dos anos 30 do século passado, Walter Benjamin teve uma interessante passagem pela rádio. Foi produtor e autor de vários programas, incluindo para crianças e jovens. Alguns dos escritos desses programas estão reunidos no livro "Walter Benjamin - ecrits radiophoniques" organizado por Philippe Baudouin. O livro está organizado em três partes. Cada uma delas dá-nos a conhecer a versatilidade de Benjamin. Em "Pour Enfants e Adolescents", encontramos transcrições de programas, muitos deles, realizados com base em histórias infantis; em "Pièces et Modèles Radiophoniques", Benjamin dá-nos a conhecer um conjunto de modelos radiofónicos por si explorados, incluindo uma descoberta dos extra-terrestres, cinco anos antes do famoso programa de Orson Wells. Por fim, a terceira parte "Théorie Fragmentaire de la radio: notes, lettres et articles" é, talvez, a compoenente mais interessante do livro para quem pretende estudar a rádio. Aqui, Benjamin reúne um conjunto de pequenos textos sobre a rádio e o seu futuro. E também ele, tal como Brecht, sublinha a importância de uma rádio para quem a ouve. 


Outras leituras:
- Revista Recherches en Communication, nº 37 (2012) - Radio et Narration de Lénchantement au Réenchantement. Organização de Frédéric Antoine. Reúne textos sobre a narrativa radiofónica, o documentário radiofónico e a rádio e Internet.
- Revista Communication & Langages, nº 165 (2010) - Journalists et Citoyens: qui parle? Organizado por Valérie Croissant e Annelise Touboul. Como o próprio nome indica, reúne artigos sobre a participação dos cidadãos nos conteúdos noticiosos na rádio, mas não só. Também na fotografia e na imprensa

A informação radiofónica na era digital

A informação radiofónica está a passar por profundas mudanças por via da sua migração para a Internet. Alteram-se rotinas, conteúdos e perfis. Ou pelo menos, é isto que se espera que aconteça.
Em Estrasburgo profissionais, investigadores e professores de jornalismo radiofónico reuniram-se durante dois dias (20 e 21 de março) para discutir estas questões, no Colóquio “Informação e Radiojornalismo na era digital” promovido pelo Group de Recherche et d’Etudes sur la Radio (GRER).
Do vasto leque de comunicações apresentadas, sublinho a divulgação dos resultados de um inquérito realizado pelo GRER a jornalistas de rádio em França, Bélgica, Canadá e Madagáscar. O inquérito pretendia, justamente, perceber de que modo estão os jornalistas a encarar a mudança das suas rotinas e práticas profissionais para a Internet. Os resultados são reveladores de que, apesar da capacidade de transformação que a Internet potencia, na realidade encontram-se vários constrangimentos que impedem essas transformações, pelo menos de modo rápido.
O inquérito revelou que a maior parte dos jornalistas da rádio não tem qualquer participação na gestão da componente online da sua rádio. Por outro lado, os jornalistas inquiridos (67%) entendem que escrever para rádio e para a Internet é a mesma coisa. Entre as vantagens de estar presente na Internet encontradas pelos jornalistas respondentes, sublinham-se a rapidez, a autonomia e a qualidade do trabalho, mas é curioso verificar que os jornalistas responderam que as principais vantagens são para as entidades empregadores e menos para os profissionais. Por outro lado, os jornalistas da rádio entendem que a principal desvantagem desta relação entre rádio e Internet é o facto de ser pedido aos jornalistas que possuam capacidades e competências técnicas e tecnológicas que muitos não possuem.
Resultados que acabam por reforçar as conclusões de outras comunicações apresentadas, uma das quais por Josep Marti Marti e Sílvia Espinosa-Mirabet cujo trabalho de investigação pretendeu conhecer as novas práticas jornalísticas no contexto da digitalização, tendo como estudo de caso as rádios na Catalunha. Para os autores, os jornalistas mantêm, no essencial, as mesmas rotinas profissionais que possuíam antes do digital. Ou seja, concluem os autores: a digitalização não provocou grandes mudanças estruturais na produção noticiosa.


II

Um dos temas mais abordados no colóquio foi o das rádios comunitárias.
Sobre isso, o que sublinho é a enorme amplitude do conceito. Em Portugal não existem rádios comunitárias, mas bem que poderiam existir se as nossas locais fossem encaradas como na Colômbia. Erica Guevara explicou que por lá as rádios comunitárias têm uma implantação local, emitem normalmente 24 horas por dia (embora nem todas), têm publicidade e informação. Em França, o conceito é o de rádios associativas e muitas delas têm igualmente jornalistas profissionais, muito diferente daquilo que se passa na Indonésia. Iman Abdurrahman explicou que as rádios comunitárias atravessam tempos muito difíceis, pois muitas delas não têm autorização para emitir. Estão, por isso, ilegais e os motivos para isso são vários. Retive este: as ondas das rádios poderiam interferir com o tráfego aéreo! Na Indonésia, uma das preocupações das rádios comunitários é a luta contra a corrupção, tema que ocupa espaço em muitas emissoras do género.
Outras temáticas do congresso versaram sobre os novos modelos de participação na rádio decorrentes da criação de sites e da presença nas redes sociais, em particular o Facebook. Este foi, alias, tema da minha comunicação (análise das ferramentas online para participação na TSF, Antena 1 e RR entre 2009 e 2013). Webrádios, redes sociais, plataformas móveis e rádios universitárias foram outros temas abordados nas comunicações apresentadas de autores franceses, belgas, brasileiros, portugueses, espanhóis, ingleses, entre outros.