quinta-feira, maio 28, 2015

Jornalismo e jornalistas das rádios locais portuguesas

         Com base num inquérito aplicado a 50 jornalistas de 35 rádios locais portuguesas  de 14 distritos de Portugal Continental no final de 2012 e de 2013 verificamos que se trata de um profissional licenciado em ciências da comunicação, aufere o ordenado mínimo, tem estabilidade laboral (72% com contrato por tempo indeterminado) e vê a sua atividade como uma "realização pessoal" e o "emprego desejado". No entanto, 20% admitiu que trabalhar numa rádio local é um passo para outra rádio de maiores dimensões.
         Trata-se de um profissional jovem, pois 62% tem menos de 40 anos de idade. Em função disso, a maior parte dos jornalistas das rádios locais portuguesas respondentes tem experiência profissional inferior a 10 anos. 
        Relativamente à política editorial, os inquiridos referiram que deve haver mais reportagem nas rádios locais, bem como debates e noticiários. De acordo com os dados, aparentemente os problemas relacionados com a falta de recursos materiais e tecnológicos estão ultrapassados, pois referiram que o seu trabalho não é afectado negativamente por estas questões. Já quanto à falta de recursos humanos, o cenário é diferente, pois 42% reconhece que essa situação tem efeitos negativos no seu trabalho e 18% referiu que afeta muito o seu trabalho enquanto jornalista. De acordo com a amostra estudada, a média de jornalistas por redação é de 1,57 profissionais. A maior redação encontrada tem 4 jornalistas. 


        Para além da aplicação dos inquéritos, foram realizadas entrevistas a jornalistas com o objetivo de conhecer o seu posicionamento em relação à radiodifusão local e à Internet.
         O cruzamento dos dados entre as respostas ao inquérito e às entrevistas permite-nos identificar o seguinte:
-        A presença das rádios locais na Internet é fundamental. 
-       Apesar de o número reduzido de jornalistas nas redações, os profissionais revelaram que para além da rádio, têm também de atualizar o site ou as redes sociais. 
- O jornalistas inquiridos consideram que a sua rádio tem uma presença "Muito Boa" na Internet embora reconheçam que melhorariam as questões relacionadas com a participação dos ouvintes e a interatividade.
- Para os jornalistas entrevistados, a Internet para as rádios locais é sobretudo uma forma de "estender o local" a outros públicos, nomeadamente aos emigrantes que assim têm uma forma de contacto com a sua comunidade de origem. "(...) o site continua a ser muito utilizado pelos ouvintes, para aceder à emissão online. Muitos emigrantes ouvem-nos noutros países e claro querem saber mais da região onde vivem"  (Entrevistado D).
- A Internet entrou nas rotinas dos jornalistas das rádios locais  "Assim que entro, consulto as várias contas de e-mail (pessoal e da redacção) ajudo a actualizar a página do Facebook da rádio e, de vez em quando, escrevo os textos para o online. (…) A internet é a redacção fora das instalações da rádio" (Entrevistado A), embora reconheçam a existência de constrangimentos que colocam a rede global numa segunda prioridade: Pois, sou eu e, admito, quando me sobra tempo. Os programas e os noticiários apanham-me praticamente todo o tempo. Admito que apenas coloco as informações em ambas as plataformas quando me sobra tempo.






quarta-feira, maio 20, 2015

O consumo de rádio em Portugal, segundo a ERC


De acordo com o estudo "Públicos e Consumos de Média" realizado pela ERC, a rádio é para pouco mais de um quarto dos inquiridos a principal fonte de notícias (28%). A preferência dos inquiridos vai para a televisão, seguida pelas redes sociais.
O estudo revela ainda que a rádio é para apenas 1% dos inquiridos a primeira fonte de notícias e para 2% dos respondentes a segunda fonte.
Um dado que deverá ser objeto de reflexão por parte dos responsáveis pelas estações de rádio é que, apesar do meio apenas ser referido por um quarto dos inquiridos para o consumo de notícias, o estudo revela que o principal momento em que os inquiridos consomem notícias é justamente "Logo pela manhã", ou seja o período do dia em que tradicionalmente a rádio era a mais escutada e aquele em que as rádios mais apostam.Outro dado para reflexão é a circunstância de a rádio representar para apenas 8% dos inquiridos uma fonte para a atualização de notícias, quando essa é também ,tradicionalmente, uma das principais vantagens face aos outros meios de comunicação.
70% dos inquiridos confessou que não dedica tempo para a escuta de notícias na rádio. 9% dedica menos de 10 minutos a ouvir notícias na rádio e apenas 4% o faz mais de uma hora por dia.
Onde a rádio é imbatível, por razões óbvias, é na escuta em transporte pessoal. 94% ouve rádio nesta circunstância. 
Curioso é o facto de os inquiridos referirem que as rádios mais procuradas para consumo de notícias são a RFM e a Comercial, duas emissoras que não apostam neste formato. A Renascença aparece em terceiro, a Cidade FM (outra que não aposta em informação) em quarto e só depois aparecem as duas rádios de cariz informativo: a TSF e depois a Antena 1. Esta ordenação é seguida também no caso da consulta para consumo de notícias online. Aqui é ainda mais estranho, pois se é verdade que a RFM e a Comercial possuem noticiários na rádio, no online não há qualquer aposta no campo da informação.

sexta-feira, maio 08, 2015

A contribuição da rádio para a cidadania, segundo Valquíria Guimarães

O conceito de cidadania é o foco da tese de doutoramento de Valquíria Guimarães. A autora suporta-se de vários autores para seguir o caminho teórico que considera a cidadania como “a dimensão ou capacitação humana que permite intervenção na realidade”. Aliada a esta concepção de cidadania, estão outros conceitos como igualdade e o reconhecimento no outro a existência de “elementos identitários comuns construídos ao longo de muitas gerações”. 
A autora prossegue afirmando que “o exercício da cidadania é a formulação de opiniões sobre assuntos relevantes para a vida dos indíviduos”. E, neste particular, torna-se fundamental perceber qual o papel que os média desempenham nesta equação, enquanto espaços para o confronto de argumentos.
O desafio a que se propõe Valquíria Guimarães é o de perceber qual o papel que a rádio tem neste domínio. Ou seja, em que medida a rádio, ainda hoje, é capaz de representar esse espaço para a discussão da coisa pública.
A autora analisa cinco rádio portuguesas (Renascença, TSF, Antena 1, Cidade e RDP-África) e cinco brasileiras (Rádio Clube FM, Jovem Pan FM, CBN FM, Cultura FM e Canção Nova). Através de grupos de foco, procurou saber se a rádio ainda se apresenta para os seus ouvintes como um espaço para o exercício dessa cidadania. Em simultâneo, analisou a programação das rádios estudadas e entrevistou os diretores de programas das emissoras.
Cruzando os dados obtidos, Valquíria Guimarães chegou à conclusão que a rádio não representa esse espaço para o exercício da cidadania por vários motivos:
1 – Os ouvintes expressaram nos grupos de foco a sua insatisfação perante o facto de a rádio não lhes proporcionar com frequência espaços para participação;
2 – os ouvintes referiram ainda que possuem outras formas de contacto com o mundo, nomeadamente a Internet e que a rádio está a deixar de representar esse papel;
3 – os ouvintes referiram ainda que a rádio se afastou das pessoas, na medida em que não aborda temáticas de interesse para os cidadãos;
4 – em relação a este aspeto, a análise aos conteúdos jornalísticos feita pela autora, revela que temas como a educação, saúde ou meio ambiente são dos menos tratados pelas rádios e que, no entender de Valquíria Guimarães, são proporcionadores de maior proximidade com os ouvintes;

Conclui a autora: a rádio distanciou-se dos seus ouvintes e não representa um espaço de livre expressão dos sujeitos. Não encontrou na programação momentos que pudessem estimular a reflexão dos ouvintes, como debates, reportagens, análises , informações contextualizadas e aprofundadas (p.206).


Leitura: A Contribuição da Rádio para o desenvolvimento da Cidadania: um estudo comparado da atuação de rádios do Brasil e de Portugal (2011-2012), Valquíria Guimarães. UNL.

Timor distingue TSF

Mais um prémio para a TSF: http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=4550114&page=-1

Perestrelo

Para recordar:

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=4551612#st_refDomain=www.facebook.com&st_refQuery=/

State of news media 2015 - A rádio

Conclusão: A rádio é cada vez mais multiplataforma. Não há um processo de substituição (a internet não substituiu a rádio) há um processo de multiplicação. Com a Internet, há mais rádio nos nossos dias.
Do relatório State of news media - 2015:
More than half of Americans ages 12 and older have listened to online radio in the past month, according to 2015 survey data from Edison Research – a clear indication that online listening continues to move rapidly into the consumer mainstream. And more of that listening is now being done through mobile devices than through desktops. Traditional AM/FM radio, meanwhile, continues to reach the overwhelming majority of the American public – 91% of Americans ages 12 and older had listened in the week before they were surveyed in 2014, according to a Pew Research Center analysis of Nielsen Media Research data, essentially unchanged from 2013. And Sirius XM – the only satellite radio platform in the U.S. – reported a boost in subscriber numbers of almost 7% from 2013.
Sobre o capítulo dedicado ao áudio:http://www.journalism.org/2015/04/29/audio-fact-sheet/

BabyRadio

A Internet é uma oportunidade para a rádio. Também, porque lhe permite chegar a outros públicos, incluindo aqueles que foi deixando para trás. A BabyRadio é uma rádio infantil, a primeira de Espanha. Tive conhecimento dela através de Luis Miguel Pedrero Esteban que a apresentou no âmbito do projeto NetStation..
Para seguir aqui: http://babyradio.es/