O programa Em nome do Ouvinte do provedor da rádio pública portuguesa vai já na sua terceira edição e, embora reconheça ser prematuro, deixo aqui algumas notas que me parecem constituir-se como uma tendência da acção de José Nuno Martins:
1º O programa está, quanto a mim, bem elaborado: a alternância de vozes (a feminina é excepcional) e a introdução de jingles empresta um ritmo interessante ao espaço radiofónico com pouco mais de 15 minutos.
2º Em cada programa, José Nuno Martins analisa duas queixas (na última edição analisou apenas uma) e fá-lo com o recurso a uma série de instrumentos próprios da figura do provedor.
Expõe o caso, recorrendo à carta ou mail do ouvinte, utilizando para tal um dos colaboradores do programa. Recupera sons que estão na base da queixa, enquadrando os ouvintes no tema em análise. Ouve os responsáveis pela estação visados na queixa, mas julgo que seria importante ouvir também os autores das peças. Por exemplo, no último programa JNM fala da «incauta repórter» e da «inocência que a repórter revelou». Seria interessante saber a opinião da repórter no caso em apreço, até pelo facto de se tratar de um directo.
E por fim, decide, por vezes recorrendo à teoria, como sucedeu no programa inaugural ou à legislação, no caso da edição do último fim-de-semana.
É igualmente frequente, os provedores recorrerem a peritos em determinadas matérias de forma a sustentarem a sua decisão ou a instrumentos do foro deontológico da profissão de jornalista ou do órgão de comunicação social.
3º Interessante é a tentativa que é feita no sentido de passar “de viva voz” no programa a queixa dos ouvintes. Potencia a rádio enquanto meio de comunicação social, mas o risco é grande pois tal prática ainda só foi conseguida no primeiro programa. Nos restantes, José Nuno Martins limitou-se a dizer que não foi possível recolher as ditas declarações. A exposição é maior se se ouvir a voz do que simplesmente escrever uma carta. Os ouvintes “queixosos” percebem isso.
4º Das cinco queixas já analisadas no programa, três dizem respeito ao conteúdo radiofónico (duas jornalísticas e outra de programação), uma às condições técnicas (recepção de sinal) e uma última relacionada com o próprio provedor enquanto profissional de rádio. É uma tendência que me parece ir ao encontro da acção de outros provedores de rádio. A estas acrescento outro tema recorrente noutros ombudsmen: o uso da língua.
5º O Provedor adoptou um sistema misto de acção: Programa radiofónico e resposta aos ouvintes via mail ou correspondência. Acresce ainda a possibilidade que nos dá de ouvir o programa em arquivo ou subscrevê-lo no formato podcast através da página do provedor. Provavelmente ainda é cedo para isso, mas a criação de um blogue seria extremamente interessante. Neste capítulo, José Nuno Martins e o seu gabinete, têm estado a fazer um excelente trabalho. Outros ombudsmen de rádio não nos facultam todas estas formas complementares à versão hertziana.
6º Julgo que, nesta fase embrionária do programa, José Nuno Martins tem conseguido ser um mediador entre os ouvintes e a Rádio, pedagógico e crítico apontando erros e práticas que considera incorrectas nos profissionais da estação, por vezes de forma bastante directa como neste exemplo em que se refere à Antena 2: «E também existem razões de sobra para que alguns ouvintes se manifestem cansados com os tiques de algumas figuras de antena ou com as cliques lisboetas dos amigos repetidamente trazidos às emissões nacionais da Antena 2».
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