As rádios locais portuguesas começaram a emitir há 20 anos, em 1989, na sequência de um processo legislativo concluído no final de 1988. A liberalização do sector da rádio em Portugal modificou por completo a paisagem radiofónica portuguesa. O Rádio e Jornalismo está a publicar um conjunto de posts sobre a radiodifusão local, com especial enfoque na realidade portuguesa.
As rádios piratas portuguesas, sobretudo pela sua expressão quantitativa, modificaram o jornalismo radiofónico português a vários níveis.
Em primeiro lugar contribuíram, pelo menos no início, para o exercício de um jornalismo de proximidade, trazendo para o cenário radiofónico um olhar sobre os pequenos problemas locais das populações, bem como novos protagonistas que eram frequentemente esquecidos pelas principais rádios do país.
Em segundo lugar, foi no seio das rádios piratas que nasceram bons projectos de jornalismo radiofónico, dos quais se destaca naturalmente a TSF.
As rádios locais constituíram-se como verdadeiras escolas práticas de jornalismo radiofónico espalhadas por todo o país. Foi nas rádios locais que nasceram para a profissão vários jornalistas que mais tarde integrariam as redacções das principais emissoras nacionais.
As emissoras locais utilizaram a informação como um argumento importante para se afirmarem no cenário da radiodifusão portuguesa. Aliás, por várias vezes a prática de um jornalismo de proximidade foi o argumento invocado para pressionar o governo no sentido de obter a desejada legalização.
As rádios piratas seguiram, desde o início, a ideia de que teriam de oferecer serviços de informação local sobre as comunidades onde se inseriam. Mas, apesar da boa vontade, a verdade é que a maior parte das rádios locais portuguesas no período da clandestinidade não apresentava as condições mínimas para o exercício do jornalismo. Poucos são os exemplos de emissoras que colocavam regularmente no ar noticiários. Não o faziam, normalmente, devido à falta de recursos humanos.
Em 1987, das 126 rádios locais referenciadas no estudo do jornal Expresso, 20 não tinham redacção, 59 possuíam, mas não eram compostas por jornalistas profissionais e só 47 redacções de emissoras locais eram coordenadas por jornalistas.
Um dos sectores da informação que mais sobressaiu com o aparecimento das rádios locais foi o desporto local. Foi notório o investimento nesta área, pois tratava-se de um campo pelo qual dificilmente as emissoras nacionais se interessariam. Muitas estações locais passaram a cobrir com regularidade os acontecimentos desportivos da sua área.
De principal argumento quando foi preciso obter a legalização, a informação nas rádios locais portuguesas passou para um plano secundário e nalguns casos (infelizmente não tão raros) deixou pura e simplesmente de existir.
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1 comentário:
A informação não "dava dinheiro" como diziam alguns directores (?) de estações.
Onde a ignorancia chegava.
Tive o previlégio de ter passado em locais onde a visão era outra. Na Horizonte Tejo, anos 90, trabalhava-se arduamente pela informação local.
Na Popular FM, uma grande equipa fez, recentemente, talvez a rádio com mais informação local.
Os estagiários pesam nas redacções onde faltam profissionais. É o lucro.
Abraço
Sérgio Bernardo
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