Numa altura em que se aguarda pela divulgação do primeiro ombudsman do ouvinte da rádio portuguesa vale a pena espreitar o balanço que dois provedores de rádio fizeram em 2005. Percebe-se que as reclamações dos ouvintes, nos casos da Rádio Bandeirantes e da NPR são muito abrangentes. Sugerem questões tão distintas como a recepção da emissão, a cobertura que os media fizeram dos furacões que assolaram os Estados Unidos, horários de programas etc.
Aqui ficam dois excertos:
Maria Elisa Porchat, da Rádio Bandeirantes (Brasil)
Reclamações mais freqüentes em 2005: em primeiríssimo lugar a falta da conexão com a Bandeirantes na internet – um projeto que está há um tempão para ser para implantado – e até agora não foi, tem causado muita frustração e bronca de ouvintes. Depois vêm as reclamações do som ou falta de sintonia, também freqüentes. Entre os programas, o Na Geral foi o mais mencionado em reclamações e em elogios.
Jeffrey A. Dvorkin, da NPR (Estados Unidos)
During the past year, many complaints and comments have come from listeners certain that NPR is on the wrong side. But as I have explained, it is not NPR's intention to take any one side, other than the side of the truth -- as much as NPR can determine what the truth is. I think NPR's obligation is to try to explain with as much nuance as possible, the issues and the arguments so that its listeners can decide for themselves. But many listeners remain unconvinced that NPR does not have a political agenda.
Embora sem o "relatório de actividades" disponível ficam mais duas referências ao trabalho de provedores de rádio.
Guillermo Jelen, da Radio de la Ciudad, da Agentina
e Patricio Gutiérrez, da RTVA, de Espanha .
segunda-feira, janeiro 30, 2006
quinta-feira, janeiro 26, 2006
TSF vence prémio internacional de jornalismo
A jornalista Cláudia Henriques da TSF ganhou o prémio de rádio da edição deste ano dos Prémios Internacionais de Jornalismo Rei de Espanha com o seu trabalho «Memória Magoada», alusiva aos atentados de 11 de Março em Madrid. Pelo que já esta tarde se escutou na emissora, a reportagem foi escolhida por unanimidade.
O trabalho pode ser ouvido no site da emissora.
Gritos, sirenes e sangue. Os sons e as imagens do dia 11 de Março de 2004 não se esquecem facilmente. Naquele dia, que anunciava chuva em Madrid, a Espanha e a Europa sentiram de perto o horror do terrorismo. 4 comboios, 10 explosões, 191 mortos, mais de 1500 feridos, numa memória para sempre magoada.
O trabalho pode ser ouvido no site da emissora.
Gritos, sirenes e sangue. Os sons e as imagens do dia 11 de Março de 2004 não se esquecem facilmente. Naquele dia, que anunciava chuva em Madrid, a Espanha e a Europa sentiram de perto o horror do terrorismo. 4 comboios, 10 explosões, 191 mortos, mais de 1500 feridos, numa memória para sempre magoada.
Mais um sinal dos tempos
Afinal o vídeo não matou a rádio. A Rádio Comercial tem disponível, em exclusivo, no seu site o teledisco de Hold Still, de David Fonseca. Perante o avanço avassalador das novas tecnologias, eis que uma técnica caduca (como se refere Felix Guattari à rádio) consegue criar mecanismos de sobrevivência.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Mozart na TSF
A TSF lança um interessante desafio aos seus ouvintes: Um Fórum especial dedicado a Mozart no dia em que se assinala 250 anos do nascimento do compositor. A iniciativa tem tanto de louvável como de arriscado. Fazer um programa com a participação dos ouvintes sugerindo um tema que sai fora da “agenda normal” dos media é um risco que a emissora está disposta a correr. Para se precaver já tem no ar a respectiva promoção, saindo assim da norma que consiste em anunciar o tema do Fórum na mesma manhã.
Lembro-me de um Fórum, há algum tempo atrás, sobre a voz. Não me recordo se houve falta de ouvintes-participantes, mas o programa ganhou, e muito, com as contribuições de especialistas.
Quinta-feira se verá como será. A TSF, pelo que depreendo da audição da promoção, dedicará todo o dia, ou parte dele, ao compositor.
Lembro-me de um Fórum, há algum tempo atrás, sobre a voz. Não me recordo se houve falta de ouvintes-participantes, mas o programa ganhou, e muito, com as contribuições de especialistas.
Quinta-feira se verá como será. A TSF, pelo que depreendo da audição da promoção, dedicará todo o dia, ou parte dele, ao compositor.
O podcasting em Portugal
Deste fim-de-semana emerge o artigo sobre a situação do podcasting em Portugal,publicado no jornal Público e da autoria de Paulo Miguel Madeira.
O artigo está também disponível no site do Clube de Jornalistas.
Como complemento a esta leitura sugiro estas duas: aqui
e aqui
O artigo está também disponível no site do Clube de Jornalistas.
Como complemento a esta leitura sugiro estas duas: aqui
e aqui
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Os jornais e o jornalismo vistos pelas crianças
O que é o jornal ?
- "É para ler"
- "É para ver coisas que interessam para os avós"
-"Vem coisas do Benfica"
- "Os jornais são velhos porque são os velhos que os lêem"
- "Quando não têm televisão, lêem jornais"
-"Para mudar a página é difícil"
-"Os dedos ficam sujos por causa da tinta do jornal"
O que são as notícias ?
- "É o que está escrito, depois vê-se as imagens"
- "São coisas importantes"
Quem faz as notícias ?
- "O senhor que está no telejornal"
-"São os jornalistas"
-"O jornalista inventa as notícias"
-"O jornalista tem que ir ter com os homens e perguntar"
-"É uma fábrica que faz os jornais de notícias"
Crianças de 5 anos que frequentam o Jardim de Infância do Centro Infantil "O Barquinho", no Lavradio, Barreiro.
Obrigado à Sónia Pacheco, educadora que teve a ousadia de apostar na Educação para os Media, numa sala de Jardim de Infância. O blogueiro tem uma pequeniníssima participação. Do projecto ainda vamos dar conta neste blogue.
- "É para ler"
- "É para ver coisas que interessam para os avós"
-"Vem coisas do Benfica"
- "Os jornais são velhos porque são os velhos que os lêem"
- "Quando não têm televisão, lêem jornais"
-"Para mudar a página é difícil"
-"Os dedos ficam sujos por causa da tinta do jornal"
O que são as notícias ?
- "É o que está escrito, depois vê-se as imagens"
- "São coisas importantes"
Quem faz as notícias ?
- "O senhor que está no telejornal"
-"São os jornalistas"
-"O jornalista inventa as notícias"
-"O jornalista tem que ir ter com os homens e perguntar"
-"É uma fábrica que faz os jornais de notícias"
Crianças de 5 anos que frequentam o Jardim de Infância do Centro Infantil "O Barquinho", no Lavradio, Barreiro.
Obrigado à Sónia Pacheco, educadora que teve a ousadia de apostar na Educação para os Media, numa sala de Jardim de Infância. O blogueiro tem uma pequeniníssima participação. Do projecto ainda vamos dar conta neste blogue.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Lei da Rádio e quotas de música
O DN publica mais novidades sobre a nova lei da Rádio e as quotas de música.
Sublinho duas questões que me parecem constituir novidade.
Primeiro, a definição de música portuguesa: " música composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados-membros da União Europeia".
Segundo, a possibilidade das quotas serem aplicadas ao grupo e não à rádio em particular.
Os responsáveis da Renascença e da TSF, citados na notícia, continuam a duvidar da eficácia da medida.
Sublinho duas questões que me parecem constituir novidade.
Primeiro, a definição de música portuguesa: " música composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados-membros da União Europeia".
Segundo, a possibilidade das quotas serem aplicadas ao grupo e não à rádio em particular.
Os responsáveis da Renascença e da TSF, citados na notícia, continuam a duvidar da eficácia da medida.
terça-feira, janeiro 10, 2006
Rádios Universitárias
O DN edita hoje um artigo sobre as rádios universitárias portuguesas, uma realidade que a lei portuguesa já contempla. O artigo sublinha a importância destas emissoras enquanto escola de profissionais e veículo de programação e informação alternativas.
Faltou a referência ao apoio a aulas de jornalismo radiofónico que algumas destas rádios podem representar.
A propósito de rádios universitárias em Portugal, há um contributo teórico interessante aqui.
Faltou a referência ao apoio a aulas de jornalismo radiofónico que algumas destas rádios podem representar.
A propósito de rádios universitárias em Portugal, há um contributo teórico interessante aqui.
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Expansão geográfica das rádios locais
Há mais um caso no cenário radiofónico português de expansão geográfica de uma rádio local. A Seixal FM, agora designada RDS, ampliou a sua cobertura utilizando para tal os emissores de rádios locais localizadas em Portalegre (São Mamede), Alter do Chão, Gavião, Trofa, Olhão e Miranda do Corvo.
A estratégia da rádio do Seixal tem sido frequentemente utilizada por outras emissoras desde a liberalização do sector radiofónico, em 1989, alterando o mapa da rádio em Portugal e contrariando o espírito da radiodifusão local.
Estas medidas expansionistas por parte de algumas empresas de radiodifusão local representam uma consequência de uma legislação desadequada e que facilita um processo de “canibalização” das rádios com mais recursos face às emissoras mais débeis financeiramente.
A realidade imposta por um mercado concorrencial alterou profundamente a noção que os radialistas “mais românticos” possuíam quando as rádios emitiam sem licença. As regras do mercado acabaram por separar as águas obrigando ao encerramento de muitas emissoras, especialmente situadas no interior do país. As populações locais viram-se, por essa razão, privadas de um importante meio de expressão.
Recorrendo ao exemplo dos distritos de Setúbal e Portalegre, podemos observar profundas alterações nos respectivos mapas radiofónicos.
O caso do distrito de Setúbal e em particular a Península setubalense é extremamente interessante. Serve actualmente como território apetecível para quem pretende chegar a Lisboa. As frequências atribuídas ao concelho de Almada são utilizadas pela Radar e pela Capital. A MIX FM utiliza uma frequência do Barreiro. A Tropical FM utiliza uma das frequências do concelho da Moita. No Montijo, uma das frequências é utilizada pela rádio Classe FM. Ou seja, o distrito de Setúbal perdeu, pelo menos, cinco rádios que se dedicavam às respectivas comunidades locais.
Em Portalegre o cenário é diferente. Tratando-se de um distrito do interior sofre desde o início da liberalização da radiodifusão os problemas inerentes à falta de investimento no tecido económico. O distrito de Portalegre foi um dos que mais frequências deixou livres após o licenciamento da radiodifusão local. Foi com alguma surpresa que em 2003 o grupo Fonógrafo adquiriu as frequências de Fronteira, Gavião e Alter do Chão. Estas últimas e a de São Mamede são agora utilizadas pela RDS, uma emissora da margem sul do Tejo, que ampliará a sua rede de cobertura e com isso recolherá maiores receitas publicitárias.
Vejamos quem ficará a ganhar com esta estratégia da RDS: se o Seixal, se Portalegre, se Alter do Chão, se a Trofa etc.
A estratégia da rádio do Seixal tem sido frequentemente utilizada por outras emissoras desde a liberalização do sector radiofónico, em 1989, alterando o mapa da rádio em Portugal e contrariando o espírito da radiodifusão local.
Estas medidas expansionistas por parte de algumas empresas de radiodifusão local representam uma consequência de uma legislação desadequada e que facilita um processo de “canibalização” das rádios com mais recursos face às emissoras mais débeis financeiramente.
A realidade imposta por um mercado concorrencial alterou profundamente a noção que os radialistas “mais românticos” possuíam quando as rádios emitiam sem licença. As regras do mercado acabaram por separar as águas obrigando ao encerramento de muitas emissoras, especialmente situadas no interior do país. As populações locais viram-se, por essa razão, privadas de um importante meio de expressão.
Recorrendo ao exemplo dos distritos de Setúbal e Portalegre, podemos observar profundas alterações nos respectivos mapas radiofónicos.
O caso do distrito de Setúbal e em particular a Península setubalense é extremamente interessante. Serve actualmente como território apetecível para quem pretende chegar a Lisboa. As frequências atribuídas ao concelho de Almada são utilizadas pela Radar e pela Capital. A MIX FM utiliza uma frequência do Barreiro. A Tropical FM utiliza uma das frequências do concelho da Moita. No Montijo, uma das frequências é utilizada pela rádio Classe FM. Ou seja, o distrito de Setúbal perdeu, pelo menos, cinco rádios que se dedicavam às respectivas comunidades locais.
Em Portalegre o cenário é diferente. Tratando-se de um distrito do interior sofre desde o início da liberalização da radiodifusão os problemas inerentes à falta de investimento no tecido económico. O distrito de Portalegre foi um dos que mais frequências deixou livres após o licenciamento da radiodifusão local. Foi com alguma surpresa que em 2003 o grupo Fonógrafo adquiriu as frequências de Fronteira, Gavião e Alter do Chão. Estas últimas e a de São Mamede são agora utilizadas pela RDS, uma emissora da margem sul do Tejo, que ampliará a sua rede de cobertura e com isso recolherá maiores receitas publicitárias.
Vejamos quem ficará a ganhar com esta estratégia da RDS: se o Seixal, se Portalegre, se Alter do Chão, se a Trofa etc.
quinta-feira, janeiro 05, 2006
A voz e o estilo
Um anónimo avisado deu pelo lapso imperdoável cometido pelo blogueiro, que se referiu a João Paulo Guerra, quando na realidade pretendia falar de Paulo Alves Guerra, daí a actualização do post.
Paulo Alves Guerra (TSF) brinda-nos frequentemente com momentos ímpares nos noticiários da rádio portuguesa. É com este jornalista que os momentos informativos da rádio nos são dados num registo diferente. Ora com a leitura de notícias pela voz de um barítono, ora iniciando o noticiário com um trecho musical, abandonando-o de seguida, para a ele voltar mais tarde. A música, os livros, os autores fazem parte, de forma repetida, do alinhamento dos noticiários editados por Alves Guerra.
O poeta (anónimo para os ouvintes daquele noticiário de fim de tarde) que perdeu os seus manuscritos algures em Lisboa, a ópera de Verdi que, ainda hoje, fechou o noticiário das 18 horas, servindo de base musical para a leitura de um poema de António Gancho. Alves Guerra despediu-se com um lacónico “Verdi para sempre”.
O uso recorrente de reflexões sonorizadas como "uhuuuum", preenchem as pausas e os silêncios da improvisação.
São exemplos de um estilo que recolherá alguns adeptos e certamente alguns “inimigos” mas que sublinha o tom pessoal da edição jornalística, enfatizada na rádio pela postura comunicacional do pivot.
A voz, a palavra dita, a entoação conferida e os elementos musicais funcionam como um todo que reforça um estilo, mais próximo da estética, ultrapassando o carácter meramente informativo do noticiário radiofónico.
Paulo Alves Guerra é um exemplo. Sena Santos, Fernando Alves e Maria Flor Pedroso são outros. A lista não fica certamente por aqui.
Paulo Alves Guerra (TSF) brinda-nos frequentemente com momentos ímpares nos noticiários da rádio portuguesa. É com este jornalista que os momentos informativos da rádio nos são dados num registo diferente. Ora com a leitura de notícias pela voz de um barítono, ora iniciando o noticiário com um trecho musical, abandonando-o de seguida, para a ele voltar mais tarde. A música, os livros, os autores fazem parte, de forma repetida, do alinhamento dos noticiários editados por Alves Guerra.
O poeta (anónimo para os ouvintes daquele noticiário de fim de tarde) que perdeu os seus manuscritos algures em Lisboa, a ópera de Verdi que, ainda hoje, fechou o noticiário das 18 horas, servindo de base musical para a leitura de um poema de António Gancho. Alves Guerra despediu-se com um lacónico “Verdi para sempre”.
O uso recorrente de reflexões sonorizadas como "uhuuuum", preenchem as pausas e os silêncios da improvisação.
São exemplos de um estilo que recolherá alguns adeptos e certamente alguns “inimigos” mas que sublinha o tom pessoal da edição jornalística, enfatizada na rádio pela postura comunicacional do pivot.
A voz, a palavra dita, a entoação conferida e os elementos musicais funcionam como um todo que reforça um estilo, mais próximo da estética, ultrapassando o carácter meramente informativo do noticiário radiofónico.
Paulo Alves Guerra é um exemplo. Sena Santos, Fernando Alves e Maria Flor Pedroso são outros. A lista não fica certamente por aqui.
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Rádios locais e globalização
A revista Media XXI nº 84 trás uma interessante entrevista a Dennis McQuail. O investigador traça uma perspectiva dos meios de comunicação social no início do século XXI que merece uma leitura atenta do artigo.
Destaco a passagem em que fala dos media regionais:
"(…) a globalização dos media tende a que estes dêem mais enfoque a notícias globais e internacionais, gerais, inserindo-se no fundo numa cultura global. Isso enfraquece os media nacionais, mais do que os regionais. A globalização não pisa os campos dos media regionais e não satisfaz as necessidades de notícias localizadas e detalhadas que estes sustentam”.
Este é um excelente motivo para se falar da função que as rádios locais portuguesas podem desempenhar no cenário radiofónico nacional. Quando se fala em espírito das rádios locais – um termo difuso – normalmente quer-se designar um sentimento que varreu o país na década de 80 quando foi invadido por um sem-número de pequenas emissoras piratas.
Tal como sucedera com as rádios Livres, que tinham mudado o cenário e o discurso da comunicação social duas décadas antes em países como a França ou Itália, as rádios- piratas trouxeram um discurso informativo diferente, agora centralizado, na abordagem às questões públicas locais. Aliás, as (poucas) referências históricas sobre o movimento das rádios-piratas em Portugal, mostra-nos um conjunto de exemplos que ilustram a importância que a informação local significou para o aparecimento daquelas emissoras, apoiadas, directa e indirectamente, pelas autarquias, empresas, associações locais e sobretudo pelas populações desejosas que estavam de ver os seus problemas, questões ou projectos retratados no espaço mediático.
A informação local é a mais-valia das rádios locais. Recorde-se Chantler e Harris, (1997) quando referem que “num mercado competitivo, a informação é uma das poucas coisas que faz o som da rádio local distinto […]”.Umberto Eco atribuíra à informação uma das principais transformações provocadas pelo surgimento das rádios independentes.
É interessante o que Bernardo Díaz Nosty (1997) diz acerca dos media locais e regionais, incluindo naturalmente as rádios locais. Nosty defende que se tratam de meios especializados geograficamente, ou seja que devem apostar em estratégias que reforcem essa especificidade. Só assim, sublinha Nosty, os media locais desenvolverão a função para a qual foram criados, incrementando valores de cidadania e democracia.
No registo da globalização, a vantagem discursiva das rádios locais portuguesas situa-se ao nível dos contextos alternativos que podem disponibilizar para os seus ouvintes.
A abertura em Portugal do sector radiofónico às emissoras locais está, contudo, implicado numa complexa legislação, que nem sempre tem tomado em linha de conta as especificidades destas emissoras locais, criando dispositivos que na prática, impedem que as emissoras locais – pelo menos algumas delas – não consigam desempenhar as funções para as quais foram originalmente criadas.
Hoje há pelo país um conjunto significativo de rádios locais que possuem redacções com apenas um jornalista. E esse está lá porque a lei a isso obriga. Em determinados concelhos do país há duas ou três rádios locais, quando dificilmente haveria espaço para uma. O resultado, em muitos casos e para cumprir a lei, passa por divulgar o press-release que chegou da câmara local, ou por simplesmente ler num dos três noticiários que a legislação impõe, o artigo do jornal da terra.
Há, por outro lado, rádios locais que aproveitam os recursos que entretanto conseguiram para se expandir geograficamente, abdicando, uma vez mais, das suas funções enquanto emissora local.
Neste cenário, os temas e as vozes são as mesmas das emissoras nacionais. As populações locais viram-se privadas de uma importante caixa de ressonância.
No limite é a democracia que perde.
Destaco a passagem em que fala dos media regionais:
"(…) a globalização dos media tende a que estes dêem mais enfoque a notícias globais e internacionais, gerais, inserindo-se no fundo numa cultura global. Isso enfraquece os media nacionais, mais do que os regionais. A globalização não pisa os campos dos media regionais e não satisfaz as necessidades de notícias localizadas e detalhadas que estes sustentam”.
Este é um excelente motivo para se falar da função que as rádios locais portuguesas podem desempenhar no cenário radiofónico nacional. Quando se fala em espírito das rádios locais – um termo difuso – normalmente quer-se designar um sentimento que varreu o país na década de 80 quando foi invadido por um sem-número de pequenas emissoras piratas.
Tal como sucedera com as rádios Livres, que tinham mudado o cenário e o discurso da comunicação social duas décadas antes em países como a França ou Itália, as rádios- piratas trouxeram um discurso informativo diferente, agora centralizado, na abordagem às questões públicas locais. Aliás, as (poucas) referências históricas sobre o movimento das rádios-piratas em Portugal, mostra-nos um conjunto de exemplos que ilustram a importância que a informação local significou para o aparecimento daquelas emissoras, apoiadas, directa e indirectamente, pelas autarquias, empresas, associações locais e sobretudo pelas populações desejosas que estavam de ver os seus problemas, questões ou projectos retratados no espaço mediático.
A informação local é a mais-valia das rádios locais. Recorde-se Chantler e Harris, (1997) quando referem que “num mercado competitivo, a informação é uma das poucas coisas que faz o som da rádio local distinto […]”.Umberto Eco atribuíra à informação uma das principais transformações provocadas pelo surgimento das rádios independentes.
É interessante o que Bernardo Díaz Nosty (1997) diz acerca dos media locais e regionais, incluindo naturalmente as rádios locais. Nosty defende que se tratam de meios especializados geograficamente, ou seja que devem apostar em estratégias que reforcem essa especificidade. Só assim, sublinha Nosty, os media locais desenvolverão a função para a qual foram criados, incrementando valores de cidadania e democracia.
No registo da globalização, a vantagem discursiva das rádios locais portuguesas situa-se ao nível dos contextos alternativos que podem disponibilizar para os seus ouvintes.
A abertura em Portugal do sector radiofónico às emissoras locais está, contudo, implicado numa complexa legislação, que nem sempre tem tomado em linha de conta as especificidades destas emissoras locais, criando dispositivos que na prática, impedem que as emissoras locais – pelo menos algumas delas – não consigam desempenhar as funções para as quais foram originalmente criadas.
Hoje há pelo país um conjunto significativo de rádios locais que possuem redacções com apenas um jornalista. E esse está lá porque a lei a isso obriga. Em determinados concelhos do país há duas ou três rádios locais, quando dificilmente haveria espaço para uma. O resultado, em muitos casos e para cumprir a lei, passa por divulgar o press-release que chegou da câmara local, ou por simplesmente ler num dos três noticiários que a legislação impõe, o artigo do jornal da terra.
Há, por outro lado, rádios locais que aproveitam os recursos que entretanto conseguiram para se expandir geograficamente, abdicando, uma vez mais, das suas funções enquanto emissora local.
Neste cenário, os temas e as vozes são as mesmas das emissoras nacionais. As populações locais viram-se privadas de uma importante caixa de ressonância.
No limite é a democracia que perde.
terça-feira, janeiro 03, 2006
Soares à TSF
Mário Soares criticou hoje na TSF a cobertura que a comunicação social tem feito à pré-campanha para as presidenciais.
Não são novos os reparos que o candidato fez aos media, mas aqui ficam algumas ideias deixadas no final desta manhã numa entrevista à TSF.
Soares disse que os media estão a apoiar a candidatura de Cavaco Silva, referindo que tal não se deve aos jornalistas, mas sim à excessiva concentração das empresas de comunicação social, algo que o ex-presidente da República considera "perigosa".
Soares referiu que não fala contra os jornalistas, mas sim a favor deles e que aponta estas críticas à comunicação social por se tratar de uma "constatação didáctica".
Soares voltou a afirmar que quer mais debates, "na televisão ou na rádio" e que agora há outro motivo, pois há mais um candidato que não teve a mesma oportunidade dos outros.
Não são novos os reparos que o candidato fez aos media, mas aqui ficam algumas ideias deixadas no final desta manhã numa entrevista à TSF.
Soares disse que os media estão a apoiar a candidatura de Cavaco Silva, referindo que tal não se deve aos jornalistas, mas sim à excessiva concentração das empresas de comunicação social, algo que o ex-presidente da República considera "perigosa".
Soares referiu que não fala contra os jornalistas, mas sim a favor deles e que aponta estas críticas à comunicação social por se tratar de uma "constatação didáctica".
Soares voltou a afirmar que quer mais debates, "na televisão ou na rádio" e que agora há outro motivo, pois há mais um candidato que não teve a mesma oportunidade dos outros.
Morreu Cáceres Monteiro
Deixou-nos hoje o jornalista Cáceres Monteiro. Enquanto estudante de jornalismo no início dos anos 90, recordo os frequentes exemplos dados pelos professores acerca do projecto editorial da revista Visão, na altura acabada de sair.
O Sindicato dos Jornalistas tem disponível um perfil do jornalista.
O Sindicato dos Jornalistas tem disponível um perfil do jornalista.
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Podcast chega à igreja
Mais um sinal dos tempos. A onda do podcasting parece que vai chegar à igreja, de acordo com a informação disponível no directório Podbrasil. Aqui fica um excerto.
"(...) em janeiro do ano que vem as Irmãs Paulinas vão lançar o primeiro podcast católico do Brasil. O conteúdo será o mesmo do programa “Bíblia, Deus com a Gente” que já é exibido em várias rádios do País. Haverá ainda assuntos de interesse dos fiéis brasileiros e da congregação, que tem uma atuação forte na área de comunicação voltada aos adeptos da maior religião do mundo."
"(...) em janeiro do ano que vem as Irmãs Paulinas vão lançar o primeiro podcast católico do Brasil. O conteúdo será o mesmo do programa “Bíblia, Deus com a Gente” que já é exibido em várias rádios do País. Haverá ainda assuntos de interesse dos fiéis brasileiros e da congregação, que tem uma atuação forte na área de comunicação voltada aos adeptos da maior religião do mundo."
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