sexta-feira, setembro 28, 2007

O provedor e a Antena Aberta

O provedor do ouvinte concluiu uma série de programas nos quais analisou o programa “Antena Aberta” emitido diariamente na Antena 1.

Trata-se de um espaço no qual os ouvintes participam em directo dando a sua opinião acerca de um tema proposto pela emissora. O programa é conduzido por um jornalista.

José Nuno Martins conclui que a existência de um programa com tais características não é consentâneo com os propósitos de uma rádio de serviço público.

E porquê?

Para JNM no programa Antena Aberta “pontificam a imprecisão e também o excesso, como aconteceu, de modo grave, na emissão de 4 de Julho”.

O provedor lembra que recebeu várias queixas de ouvintes referindo-se à existência de tais imprecisões e insultos.

JNM baseia-se naquilo que considera ser o carácter pouco jornalístico do programa, uma vez que a recolha das opiniões dos ouvintes não resulta de uma pesquisa e o moderador nem sempre consegue impedir a utilização por parte dos participantes de termos e expressões menos próprias. Por outro lado, a participação é feita em directo, ou seja, sem a possibilidade de filtrar as intervenções. (Ver a experiência da NPR).

A linguagem utilizada, o grau de impreparação dos ouvintes para comentar alguns temas e a impossibilidade de verificar a identificação dos participantes são outros factores negativos atribuídos a este género de programas.

Para o provedor, a Antena Aberta resume-se a uma “sequência de opiniões avulsas de pessoas comuns, expostas de modo relativamente caótico, sumariamente pontuadas por intervenções esparsas de dois, três ou mais Especialistas convocados pela Produção”.

E por isso, quem trabalha na Rádio Pública deve “preservar a correcção formal em todos os momentos de uma emissão” e ter em conta “sempre a coerência das formulações estéticas, o equilíbrio dos conteúdos, a adequação da linguagem radiofónica e também o uso adequado da própria língua portuguesa, como aspectos que não podem ser esquecidos nem iludidos por quem trabalha na Rádio”.

Conclui JNM: “o todo caótico não me parece consentâneo com os planos de credibilidade, idoneidade e fiabilidade que devem caracterizar os Programas da Rádio Pública”.

O programa Antena Aberta, por ser feito em directo e permitir a participação dos ouvintes sem que exista uma prévia filtragem das intervenções, encerra vários riscos. Alguns deles enunciados por José Nuno Martins.

Considero, contudo, que os programas com estas características são um importante instrumento para contribuir para a diversidade e pluralidade do discurso radiofónico. E, por esta razão, uma relevante competência do Serviço Público.

Ainda para mais se lembrarmos que no cenário radiofóncio nacional não existem muitos espaços com aquelas características. Recordemos Andrew Crisell (1994) que classificou este tipo de programas em três categorias: Exibicionista, confessional e expressivo.

Ora, em muitos espaços radiofónicos nacionais, a participação dos ouvintes resume-se à transmissão da sua voz através da rádio. Pedem discos, contam anedotas (exibicionista) ou falam dos seus problemas pessoais (confessional). Raramente são colocados perante o desafio de se posicionarem em relação a um assunto público (expressivo).

Por outro lado, uma análise mais atenta aos espaços informativos, em particular os noticiários das rádios portuguesas (incluindo a pública) verifica-se que a palavra dos cidadãos, mesmo quando o tema lhes diz particular interesse, raramente é emitida, preferindo-se as fontes oficiais, aliás uma tendência do jornalismo em geral e não apenas da rádio. Por exemplo, numa notícia sobre um qualquer protesto de professores, ouviremos a posição do governo e dos sindicatos. Ponto final.

A presença dos cidadãos e das suas opiniões no debate público, que nos dias de hoje se faz num cenário mediático, é importante. Cabe aos media assegurar, com regras e rigor, instrumentos no sentido de que essa participação se efective. Um desafio também para a rádio pública.

Os problemas de mau uso da Língua Portuguesa, a falta de educação (expressão minha) de alguns participantes ou a impreparação para alguns temas, são situações lamentáveis, mas não devem obstruir o principal objectivo de um programa como a Antena Aberta.



O último programa do provedor dedicado à Antena Aberta pode ser ouvido aqui

Act: Manuel Pinto, no Jornalismo e Comunicação, também comenta a posição do provedor. Para ler aqui.

1 comentário:

Vítor Soares disse...

Para quem estiver interessado em aprofundar o tema dos chamados programas de "antena aberta" aqui fica um link. Sem falsa modéstia.

http://infoinclusoes.blogspot.com/2007/05/cidados-e-consumidores-mediticos.html