O artigo do DN, no passado sábado, escapou-me por completo, mas o atento blogue A Rádio em Portugal trouxe, e bem, o assunto para a "agenda dos blogues".
Refiro-me ao artigo de opinião da autoria de Nuno Azinheira, sobre as rádios locais em Portugal. É um assunto pelo qual o blogueiro se interessa em particular e por essa razão deixo alguns cometários, apesar de já o ter feito noutros ocasiões, neste mesmo espaço.
A questão a que Nuno Azinheira alude - o colapso das rádios locais - é motivada pela aquisição da Rádio Ocidente, Sintra, pelo Grupo Renascença, desconhecendo-se, para já o que pretende fazer com a emissora adquirida.
Este é, infelizmente, um cenário que se tem vindo a repetir desde o início dos anos 90, quando a maior parte das rádios locais portuguesas, depois de passada a euforia que caracterizou o período da «pirataria» se viu confrontada com um mercado agressivo, para o qual não estavam preparadas, e regulamentadas por legislação que já vinha torta ao permitir que a concelhos deste país, que dificilmente teriam capacidade para suportar uma rádio local, fossem atribuídos alvarás para duas e, nalguns casos, três emissoras.
A solução passou pela cedência de espaços horários a confissões religiosas ou a rádios com mais sustentabilidade económica. Noutros casos, a opção foi a venda pura e simples, como sucede agora com a Ocidente.
Nuno Azinheira reporta-se a Sintra. Mas relembro Almada - uma frequência está atribuída à Rádio Capital e outra à Radar - Barreiro ou Moita. Em qualquer destes casos falamos da área Metropolitana de Lisboa. Em qualquer destes casos falamos de concelhos populosos.
Os municípios que rodeiam Lisboa representam, por esta altura, um terreno fértil para as emissoras chegarem à capital. Não interessa a informação local do Barreiro, de Almada ou de Sintra. Interessa isso sim entrar no mercado lisboeta. O problema desta luta pela sobrevivência é que o discurso produzido pelas rádios locais está cada vez mais igual, sobretudo no capítulo da informação.
Num trabalho desenvolvido no âmbito do Mestrado (2003), tive oportunidade de analisar os noticiários de quatro rádios locais da Península de Setúbal e portanto inseridas na àrea Metropolitana de Lisboa.
Conclusão: As notícias locais - aquelas que dizem respeito à área de implantação da rádio local - representaram apenas 34 por cento da totalidade da informação difundida.
É claro que o problema tem causas. Por exemplo a falta de recursos humanos. As redacções das rádios analisadas possuíam entre 1 a 5 jornalistas, conduzindo à prática de um jornalismo que priveligia as notícias de agência.
Ou as condições salariais: a média de vencimentos era, em 2002, inferior a 500 euros.
É preciso repensar o conceito de rádio local.
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1 comentário:
Infelizmente a realidade das rádios locais, passa cada vez mais por um descrédito acentuado, em detrimento do que é nacional. A minha experiência tem me dito isso mesmo, muitas das rádios locais do Alentejo possuiem 1 ou 2 jornalistas. O que não permite grandes trabalhos de fundo, as rotinas jornalisticas passam por um grande trabalho sedentário. Os jornalistas raramente saiem da redacção, por falta de tempo, mas também por falta de vontade e hábito, em alguns casos. O facto das emissoras nacionais se "apoderarem" dos emissores locais, na minha opinião vai ser uma vontade cada vez mais crescente. Com pena minha, apesar desse descrédito de que falo, as rádios locais são um importante factor de desbloqueio dos poderes, e de intervenção da população local, para além de abrirem as portas aos jovens jornalistas estagiários, têm a sua vertente lúdica importante, sempre dando preferência ao que é local e regional. Penso que cabe à radiofusão local não se deixar ir pela pressão das rádios nacionais, cativando novos colaboradores, as empresas e tudo aquilo que seja uma mais valia, para o funcionamento da rádio.Quero aqui também dizer, que há muitos bons jornalistas nas rádios locais, que todos os dias fazem um esforço enorme para servir os ouvintes, com a melhor informação.
Mara Alves
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